quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Montanha russa

Há muito que não escrevo...

O gozo que me dá traduzir em palavras o emaranhado de emoções que me ocupa o espírito é comparável à adrenalina de entrar num montanha russa. Começa a ansiedade e o pensamento de "não sei se sou capaz", mas quando se começa já não se consegue parar até deitar tudo cá para fora.

Depois de terminado, a sensação de triunfo é inequívoca, independentemente do resultado. Tal como na montanha russa este sentimento de vitória é totalmente despropositado, pois a partir do momento que nos sentamos no carrinho, não temos como escapar... Também estas pequenas traduções de pensamento não têm qualquer mérito, afinal não é isso que é suposto fazermos com esta massa cinzenta que nos foi atribuída à nascença?!...

No entanto, a que propósito pararia eu de fazê-lo?...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Dementia

Fui incapaz de raciocinar
E não deixei de ser quem sou
Fui incapaz de me lembrar
E não deixei de ser quem sou
Fui incapaz de tomar decisões
E não deixei de ser quem sou
Não me lembrei de comer
E eu ainda sou eu
Não fui capaz de cozinhar
E eu ainda sou eu
Não fui capaz de me organizar
E eu ainda sou eu
Fui incapaz de compreender o que leio,
Mas não deixei de ser quem sou
Fui incapaz de me reconhecer ao espelho
E eu ainda sou
Fui incapaz de sentir
E eu ainda sou
Fui incapaz de ouvir
E eu ainda sou
Fui incapaz de entender
E eu ainda sou
Fui incapaz de ter compaixão
E eu ainda sou

A Pausa

Estou aqui. No momento em que a minha cabeça parou, as emoções apagaram-se, questiono tudo de uma forma geral e já sem desespero. Porquê?!
Uma pergunta que já nem espero ver respondida pois as vozes na minha cabeça calaram-se, e não tenho quem me ajude a discernir o real do imaginário, nem esperança de sentir...
Eu, como me conheço, não estou cá, não estou presente para me dar apoio, direcção, companhia, certezas...
E então percebi!
Percebi o que pode sentir alguém que nunca tenha tido fé, o desamparo, a solidão, a incredibilidade no bom perante a dificuldade.
Percebi o quão desesperante pode ser nunca ter conhecido a fé, e surgiu em mim compaixão.
Compaixão sem julgamento.
Compaixão por quem não se sente acompanhado, logo não tem fé.
Compaixão por quem não se lembra e fica doente.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Ética

Assume-te!
Responsabiliza-te!
Tens de ser mais mais forte do que o mundo inteiro, mesmo quando te encontras deitado e dorido pelas feridas do caminho. O cansaço pode ser tal que te sentes dormente, perto da inconsciência, mesmo assim não deves perder a capacidade de distinguir o certo do errado.
É o que faz de ti quem tu realmente és. Saberes, com toda a certeza, no fundo do teu ser, o que está certo a cada momento, e agires de acordo com o que sabes.
A questão é que, mesmo sabendo não ages de acordo com a tua vontade, mas com o que consideras ser a vontade dos outros.
Ou por preguiça, ou por não quereres pensar, ou por achares que não és suficientemente adequado para tomares as tuas próprias decisões, ou simplesmente por quereres desesperadamente integrar-te, deixas que outros tomem a decisão por ti. Às vezes são coisas pequenas, outras vezes não.
Depois, quando dás por ti, já foram tantas as decisões não-tomadas neste estado de dormência que, de repente, a vida já não é tua.
E foram tantos os momentos em que abdicaste de quem és, que procuras e não te encontras.
Aí, resta-te apenas encontrar o silêncio.
Quando o conseguires encontrar, agarra-te a ele! É no silêncio que todas as vozes do mundo exterior se calam. É só lá que poderás reencontrar alguma paz.
E atenção, que eu disse que encontras paz, pois é possível que te tenhas desmembrado de tal forma que não te consigas encontrar. Apenas no silêncio encontrarás refúgio.
E se te conseguires refugiar durante tempo suficiente, perceberás que ainda resta um pouco de ti. E essa voz, que é tua, falará.

Nasci com Fé

Nasci com fé, e a menos que algum acontecimento muito traumatizante me possa arrancar, ela estará sempre comigo. E mesmo que por algum desastre a perca, terei sempre a sua memória e a sua falta, uma ferida que dói. Dói sem parar como um membro decapado, e tal como este, a memória do que já foi não se vai, pois existe sempre uma dolorosa cicatriz que nos recordará diáriamente a sua existência.
E porque digo eu que nasci com fé, já agora?! Desta forma tão indubitavelmente física, quando costumamos atribuir esta a uma área emocional da nossa vida?
Eu nasci com fé, pois nasci com a certeza inquestionável de um Deus amoroso, carinhoso e com compaixão infinita que me acompanha em cada momento da minha vida.
Acredito, acreditei e poderei continuar a acreditar neste Entididade Divina cheia de Luz que nos acompanha, porque sempre a senti lá.
Não vou dar nenhum relato estraordinário de uma Luz Divina que iluminava todos os meus sonhos, ou de um amigo imaginário vestido de vestes resplandecentes que me acompanhava durante a infância.
Ao invés disso, a explicação é muito simples.
Sempre que estava sozinha sentia-me acompanhada.

Uma visão pessoal

A Fé é algo difícil de definir, como nasce, cresce, prospera e morre... e muitas vezes volta a renascer, formando um movimento espiralado de renovação e evolução.
Talvez os teólogos sejam capazes de, formalmente, definir o seu ciclo de vida dentro de cada indivíduo.
Eu acho que, todas essas abordagens formais a uma assunto tão profundo e íntimo, dificilmente deixarão entrever mais do que uma abordagem superficial e estereotipada da mesma.
Isto digo eu, que ainda não encontrei ninguém que tivesse a mesma relação com a fé que eu tenho.
E mesmo eu, que sendo eu e não passando a ser qualquer outro, consigo só agora ter um vislumbre dessa abordagem superficial de que os outros tanto falam.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Perdição

Achas-te tão cheio de ti e nada tens. Perdeste pedaços da tua alma pelo caminho.
De cada vez que tropecaste e aceitaste culpar o outro pela tua deselegância, perdeste-te!
De cada vez que optaste por magoar para não ser magoada, perdeste-te!
De cada vez que optaste por ignorar a tua voz interior em prol da opinião dos outros, perdeste-te!
De cada vez que choraste por ti sem nada fazer pelo outro, perdeste outro pedaço de ti.
Toda a vida é um caminho de pedras. Só tu escolhes o que fazes com elas.
Cada vez que criticas o próximo pelas suas atitudes, é uma venda que pões nos teus próprios olhos para não veres o teu caminho.
E assim tudo é.